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Música Gaúcha
Música Gaúcha

 

 

          Milonga Abaixo de Mau Tempo

Coisa esquisita, a gadaria toda
Penando a dor do mango com o focinho n'água
O campo alagado nos obriga à reza
No ofício de quem leva pra enlutar as mágoas
O olhar triste do gado, atravessando o rio
A baba dos cansados afogando a volta
A manha de quem berra no capão do mato
E o brado de quem cerca repontando a tropa

Agarra amigo o laço, enquanto o boi tá vivo
A enchente anda danada molestando o pasto
Ao passo que descampa a pampa dos mirréis
E a bóia que se come, retrucando o tempo
Aparta no rodeio a solidão local
Pealando mal e mal o que a razão quiser

(REFRÃO)
"Amada. . .
Me deu saudade
Me fala que a égua tá prenha,
Que o porco tá gordo, 
Que o baio anda solto
E que toda cuscada lá em casa comeu"

Coisa mais sem sorte esta peste medonha
Curando os mais bichados, deu febre no gado
Não fosse a chuvarada se metendo a besta
Traria mil cabeças com a bênção do pago
Dei falta da santinha limpando os peçuelos
E do terço de tentos, nas preces sinuelas
Logo em seguidinha é semana santa
Vou cego pra barranca, e só depois vou vê-la

Agarra amigo o laço, enquanto o boi tá vivo
A enchente anda danada molestando o pasto
Ao passo que descampa a pampa dos mirréis
E a bóia que se come, retrucando o tempo
Aparta no rodeio a solidão local
Pealando mal e mal o que a razão quiser



         Num Posto, Num Fim de Mundo   

Troveja magoas o agosto
Baldas de tempo grongueiro!
Trago amilhado um parceiro
Patas brasinas, gateado
Que quando o dia é dos brabos
E o passo se para fundo
Num posto, num fim de mundo
É quem tira garreado.

A vacage do espinilho
Vem despejando terneiro
E o destino de posteiro
Se arrocina no serviço
Compromisso é compromisso
Não tem de boca entaipada
Quando não chove cai geada
O inverno é feito pra isso!

(REFRÃO)
"Num posto, num fim de mundo
As leguas sao mais compridas
As tardes mais encardidas
E as horas custam passar
Camperear e camperear
É o que me toca na vida
Graças a Deus tenho a lida!
Que me permtite sonhar"

O "Campomar" encharcado
Já pesa mais um "poquito"
E o vento segue maltido
Riscando o vão da canhada
Uma borrega atracada...
Não deu pra salvar o cordeiro!
É assim o mundo campeiro
"As vez" se perde a parada.

Desencilho no galpão
Onde a intempérie se acalma
O mate aquece a alma
Sustenta o vicio profundo
Um rádio gasta os segundos
Entre milongas e prosas
E a noite dentra morosa
Num posto num fim de mundo.



           Romance de um Peão Posteiro

Quando volto às casas num final de tarde
Venho assoviando uma coplita mansa
Meio basteriado pela dura lida
Mas meu coração canta de esperança
Sei que me esperam junto da janela
Dois olhos matreiros presos à distância
É a dona do rancho que sai porta a fora
Para os braços rudes desse peão de estância

É um rancho posteiro num fundo de campo
Meu pequeno mundo que eu mesmo fiz
Como por encanto torna-se um palácio
Para a prenda rainha que me faz feliz
Essa prenda linda prendeu meu destino
Não sou mais teatino, veja o que ela fez
Ao olhar seu ventre sei com ansiedade
Que em breve no rancho nós seremos três

Vou aumentar o rancho pois sou prevenido
Já tenho escolhido o pingo pra o piá
Vai ser meu parceiro nas horas de mate
Maior alegria que essa não há
Quem tem o que eu tenho vai me dar razão
De cantar alegre galopeando ao vento
A saudade é um chasque pra mulher amada
Que me invade o peito, coração à dentro

 

 

                 Reencontro

Nestes meus olhos de olhar tristonho
Existe um sonho de te namorar
Só peço não demores tanto
Porque eles podem se cansar
Cansados vão ficar mais tristes
Mas ainda existe um brilho no olhar
Que se mirares profundamente
Vai de repente te reencontrar

(REFRÃO)
"Menina bonita que se fez distâncias
Soubesses a importância de te ter aqui
Nosso reencontro me traz a certeza
Que a tua beleza eu tive e não perdi"

Quando fico a esmo num olhar profundo
Eu procuro um mundo pra poder te dar
São meus olhos a encurtar distâncias
Que carregam ânsias de poder te amar
Quero que procure em outros lugares
Por onde passares um pouco de mim
O coração garante não vais encontrar
A certeza no olhar por te amar assim.



               Romance de Flor e Luna

Quando um dia Rosaflor chegou no rancho
Pequeno mundo num fundão de corredor
Enxergou um pingo baio encilhado
E um gaúcho com um gateado no fiador
Mariano Luna domador seguia os ventos
Trazendo mansos pra cambiar pelas estradas
E Rosaflor filha mais moça do seu Nico
Lavava roupa junto às pedras da aguada
Rosaflor num riso manso e buenas noite
Entrou no rancho com seus olhos de querer
Mariano Luna com suas pilchas já puídas
Disse a moça um outro buenas sem dizer, sem dizer

Mariano Luna que tinha lua nos olhos
Entregou esse clarão aos olhos dela
E apagou a luz extrema que continha
Da outra lua que apontava na janela
A lavadeira pouco sabia das luas
E ainda menos dos olhares que elas têm
E descobriu então nos olhos do andante
Que de amores nem as flores sabem bem
Que de amores nem as flores sabem bem. . .

O domador que só sabias desses campos
Sabia pouco do azul que vem das flores
Mas descobriu depois de léguas de estradas
Que há muito tempo não cuidava seus amores
De flor e luna se enfeitou o rancho tosco
Pequeno mundo num fundão de corredor
Que sem saber ficou mais claro e mais silente
Depois que lua debruçou-se sobre a flor
Ficou a estrada sem ninguém pra ir embora
E risos largos diferentes do normal
Um baio manso pastando pelo potreiro
E bombachas limpas pendurada no varal, no varal. . .



                     Domingueiro

De cavalo encilhado
Na frente da estância
O preparo prateado
Luzia no sol
Com florão na peiteira
O encontro do mouro
Traz em fios de ouro
Um campeiro arrebol.

A pilcha reservada
Pra folga da lida
E uma "boinita" antiga
Atirada pra trás
A bota fandangueira
Vai junto aos "peçuelos"
Pra não suar no cavalo
Ao trote no más.

(REFRÃO)
Com jeitão bem domingueiro
Um mourito pela estrada
Leva a estampa de campeiro
Pra os carinhos da amada.

Um pealo de cucharra
Parou o meu destino
Qual um potro malino
Junto ao domador
E as ânsias de domingo
Apearam do pingo
Num ranchito fronteiro
Emponchado de amor.

O pingo "das confiança"
Pastando flechilha
Os arreios da encilha
Dentro do galpão
O sonho de campeiro
Estendendo baixeiro
Pra bombear luzeiros
Nessa imensidão.



                 Romance dos Olhos Negros

Mando um bilhete cheio de boa intenção
Pra uma morena lá do rincão dos machado
Eu vou chegar num redomão de queixo atado
Flor de gateado, que é pêlo da tradição

Quando passei lá esse dias com a tropa
De uma janela um sorriso me acenou
Dois olhos negros incendiaram a tarde calma
E minha alma de campeiro de vereda se encantou

Desde esse dia um sentimento me atorda
E o pensamento vôoa em direção desta casa
Quem sabe a velha solidão batendo asas
Amanhã busque outro rumo e me deseje sorte boa

(REFRÃO)
Morena linda sobre o céu deste domingo
Quero te ver lá nas carreiras do povoado
Meu coração por um beijo e um carinho
Depois te trago na garupa do gateado

Levo um amor que reflorece a cada aurora
E no canto das esporas uma copla apaixonada
Pois desde quando te emoldurei nas retinas
Minha sina estradeira ganhou cisma amorenada

Bombacha nova e um bom lenço maragato
E na guaica um retrato pra te ofertar com apego
No peito guapo um coração que já não mente
Ainda mais depois que sente o poder dos olhos negros

"Um sul de verdade campeia em meus olhos, de bota e bombacha, montado a capricho de alma amansada curtida da lida com a doma da encilha na ponta dos cascos, um sul de verdade galopa comigo, sujeitando o pingo nas cambas do freio, sovando os arreios nas léguas do pago, reunindo o gado num pelado de rodeio" José Claudio Machado



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